REPORTAGEM GAZETA ON LINE
ENTENDA COMO NASCE UM DESFILE DE ESCOLA DE SAMBA
Fantasias e alegorias podem surgir na cabeça do artista e partir de um desenho de, no máximo, uma polegada
Pilhas de livros, canetas de todas as cores, folhas de papel em branco e uma copiadora eficiente. Parece um quarto de estudante. Mas é a sala de trabalho de um carnavalesco.
É assim, entre as pesquisas bibliográficas e rascunhos quase primários que nasce um desfile de escola de samba. Como assim? Simples. Fantasias e alegorias podem surgir na cabeça do artista e partir de um desenho de, no máximo, uma polegada.
Assim começa boa parte dos projetos de carnaval de Alex Santiago. O carnavalesco da escola Pega no Samba muitas vezes aproveita os momentos de folga entre as aulas na faculdade e esboça pequenos desenhos nos cadernos. Chegando em casa, ele se inspira nos rascunhos quase indecifráveis e cria as fantasias para o próximo carnaval. O importante é não deixar a inspiração.
A primeira decisão tomara sobre um desfile é quais cores serão usadas em cada fantasia e carro alegórico. A escolha das cores acontece antes mesmo de definir qual tema a escola de samba levará ao sambódromo e ajuda a amarrar o desfile visualmente. É o famoso conjunto.
"Eu pego o disco de cores e vou girando ele. Primeiro eu vou compor o que eu quero passar de cor na avenida. Tem a principal, a complementar e as secundárias. Aí eu vou trabalhando todas as alas. A cor vai dar o efeito. Independente do tipo de fantasia, você vê a escola de cima. Você vê o mapa de cores. Da arquibancada não dá para ver se o detalhe da passamanaria tem bico ou não. Mas consegue ver o gradiente de cores que você conseguiu passar naquela roupa", explica.
Após definir todas as cores do desfile, começam os pensamentos sobre o enredo da escola. E nessa hora, ideias não faltam e são sempre bem-vindas. Livros, internet, referências a outros desfiles. Tudo conta. Mas não se espante se um carnavalesco te pedir opiniões sobre um determinado tema, mesmo que você seja 'doente do pé'.
"Na hora de pensar o enredo eu procuro falar com pessoas que não são do carnaval. Se eu ficar conversando só com gente do carnaval, sempre vão sair as mesmas coisas. Se você procura pessoas envolvidas na área da arte, da música ou da Psicologia, você consegue fazer um carnaval diferente e inovado".
Com enredo definido, é hora de desenhar e pintar. Nessa fase, que pode durar até dois meses, entra em cena uma grande ajuda. A da copiadora. Cada desenho de fantasia chega a ser impresso até 10 vezes em preto e branco, para ser pintado inúmeras vezes, até chegar no tom ideal, dentro da escala de cores já definida meses antes.
As alegorias e adereços são um capítulo à parte na criação de um desfile. Até porque são elas as maiores atrações visuais do desfile e também são elas as responsáveis pelas maiores perdas de pontos quando não são de boa qualidade. Mas você sabe como é planejada uma alegoria? Alex Santiago explica de forma bem didática e interessante.
"Quando eu projeto os meus carros eu me inspiro em igrejas. Porque a igreja tem um foco central. Toda igreja termina no eixo central que seria o altar. Então eu vejo um carro alegórico como um grande piso de igreja. O destaque central seria o santo. Onde ficariam os outros santos menores, são os destaques menores. E onde ficam os bancos da igreja, é onde eu vou trabalhando as esculturas".
Os desenhos, geralmente, não mudam tanto quando viram realidade. Segundo o artista, ter consciência das condições financeiras e do tamanho da equipe da escola é fundamental. E não adianta planejar um desfile grandioso, se na prática a agremiação não tiver condição de executar o trabalho.
E depois de tanto pensar, planejar, desenhar e pintar, o desfile já está pronto. Pelo menos no papel. Se o desfile chegará à avenida como foi planejado, com todas as ideias do carnavalesco, aí já é outra história...
LEONARDO SOARES - GAZETA ON LINE